Nei José
São José dos Campos
Poucos personagens do esporte joseense carregam consigo uma história tão rica, longa e inspiradora quanto a de Cláudio Calasans Camargo. Aos 62 anos, ele é muito mais do que um nome forte no judô: é sinônimo de superação, disciplina, resiliência e legado. Atleta, professor, empresário e ex-vereador, Calasans construiu uma trajetória que atravessa gerações, dentro e fora dos tatames.
Em 2025, ele completa meio século dedicado ao judô, esporte que abraçou ainda menino e que transformou sua vida. Seus filhos seguem o mesmo caminho, levando o nome da família Calasans aos pódios do Brasil e do mundo.
Nesta entrevista exclusiva ao Portal SportVale, Cláudio relembra momentos marcantes, compartilha aprendizados e fala do impacto do esporte na formação de cidadãos.
Como começou sua trajetória no judô?
Iniciei em 1975, no Tênis Clube de São José dos Campos, primeiro com o sensei Amadeu Esteves e depois com o sensei Michiharu Sogabe. Antes disso, já praticava outros esportes como atletismo, natação e futebol. Meu irmão gêmeo, Rubens, começou no judô e gostou muito. Isso me motivou a também experimentar — e nunca mais parei.

Quais foram suas principais conquistas como atleta?
Tive conquistas importantes em campeonatos estaduais e nacionais, além de diversas vitórias nos Jogos Abertos do Interior, representando São José dos Campos. Hoje, sigo competindo na categoria veteranos e sou hexa campeão brasileiro na minha faixa etária.

Algum atleta te inspirou no começo?
Sim, sem dúvida. O grande judoca Arnaldo Menani, que veio para São José e se tornou auxiliar técnico do sensei Sogabe, foi uma grande inspiração pra mim.
Quais treinadores marcaram sua formação?
Além dos já citados, tive um aprendizado muito valioso com o sensei Satoru Hirakawa, na Associação Hirakawa de Judô. Foi ele quem ajustou minha técnica e me ensinou a lutar com pegada de canhoto, que usei por toda a carreira.

Você também teve uma atuação política. Como foi essa experiência?
Foi uma fase muito produtiva. Minha vivência no esporte ajudou muito na construção de políticas públicas esportivas para São José. Junto com uma assessoria muito qualificada, conseguimos, por exemplo, criar o Conselho Municipal do Esporte, modernizar a LIF (Lei de Incentivo Fiscal do Esporte) e aprimorar a Lei do Programa Atleta Cidadão, entre outras conquistas legislativas.

Sua vida também é marcada pelo empreendedorismo. Conte um pouco dessa trajetória.
Iniciei muito cedo no esporte. Comecei na natação, na AESJ (Associação Esportiva São José), onde fui orientado por grandes professores como Nadin, Zanza, Moura e Glauco. Mais tarde, continuei na natação no Tênis Clube, com a professora Soninha, que também teve papel fundamental nesse processo formativo. Na escola, tive meu primeiro contato com o atletismo, no Colégio Olavo Bilac, sob os ensinamentos do professor Josildo. Depois, esse interesse pelo atletismo se aprofundou durante meu tempo na ETEP, com os professores Oswaldo Schimasch e Sérgio, e também no CTA (Centro Técnico Aeroespacial), onde treinei com o professor Vento e o renomado professor Montezano.
Também tive uma passagem marcante pelo futebol, no projeto social do Padre Rodolfo, onde fui treinado pelo professor Luís Antônio, carinhosamente conhecido como Nego. O judô entrou na minha vida em paralelo a tudo isso, através dos ensinamentos dos senseis Amadeu Esteves, Michiharu Sogabe, Arnaldo Menani e Satoru Hirakawa. Além disso, o contato com a musculação, na época com o professor Afonso Monteiro, foi essencial não só para complementar minha formação física.
Minha infância não foi fácil. Meu pai, Dr. Rubens, que era Delegado de Polícia, faleceu muito cedo, quando eu e meu irmão gêmeo tínhamos apenas 10 anos de idade. Minha mãe, professora Cleyde, teve que assumir sozinha toda a responsabilidade da família, trabalhando intensamente nos três períodos do dia para garantir nosso sustento e educação.
Fiz técnico em mecânica industrial na ETEP, onde fundei, ainda como aluno, o ETEP Judô Clube. Depois, cursando Educação Física na UNITAU, fui professor da escola por 20 anos, de 1981 a 2001.

Em 1986, fundamos nossa academia no bairro Jardim das Indústrias, onde seguimos até hoje. Chegamos a vender máquinas de musculação, que eram projetos dos alunos da ETEP, para financiar a construção da academia. Enfrentamos muitas crises econômicas, especialmente na década de 90, mas nunca desistimos.
Nossa missão sempre foi combinar esporte de qualidade com responsabilidade social, oferecendo bolsas para quem não podia pagar e atendendo também crianças e jovens da comunidade. Meus três filhos — Cláudio Jr., Paulo Eduardo e Marcus Vinicius — são faixas pretas de judô e jiu-jitsu, e também competiram no wrestling (luta olímpica). Todos defenderam São José dos Campos em Jogos Regionais e Jogos Abertos, trazendo muitas medalhas para a cidade. E agora, nossos netos também estão seguindo esse caminho no esporte!
Hoje a Academia Calasans Camargo tem reconhecimento internacional. A que você atribui isso?
É fruto de muito trabalho, dedicação e amor pelo que fazemos. Se você pesquisar nosso nome no Google, vai encontrar uma história cheia de títulos, matérias e registros em diversos idiomas. Isso nos enche de orgulho.
Como tem sido sua atuação na Delegacia Regional de Judô?
Assumi como Delegado Regional da FPJudô em 1991, após anos como secretário do então delegado, Dr. Walter dos Santos, meu grande mentor. Junto com pessoas incríveis como Artine Silva, Adelmo Liberato e Jarbas Dias Ferreira, ajudamos a consolidar o judô no Vale do Paraíba. Criamos uma estrutura administrativa muito mais eficiente, com diversas coordenadorias e colaboradores. Hoje, nossa região é referência nacional graças a essa organização.

Você completa 50 anos no judô. O que representa esse legado?
É muito mais do que medalhas. Ao olhar pra trás, vejo milhares de alunos, dezenas de faixas pretas formados, professores, e principalmente, cidadãos do bem, que levam os ensinamentos do judô para a vida. A semente que meus mestres plantaram em mim, eu replantei nas novas gerações, e assim seguimos, fortalecendo essa corrente que não pode se quebrar.

Quais outros projetos você desenvolve atualmente?
Faço parte do Lions Clube Augustin Soliva, onde, desde 2003, coordeno o Projeto Esporte Educativo, oferecendo judô gratuito em comunidades da periferia de São José dos Campos. Também sou membro do Panathlon Clube e represento a entidade no Conselho Municipal do Esporte (COMUES).