Nei José
    São José dos Campos

    O esporte joseense está intimamente ligado com a história de Fabíola Molina. A trajetória da nadadora vai muito além das três Olimpíadas que disputou (Sydney 2000, Pequim 2008 e Londres 2012).

    Empresária, mãe, gestora pública e agora também vice-presidente da Federação Aquática Paulista (FAP), Fabíola continua mergulhada no universo esportivo, contribuindo para a formação de novos atletas e para o desenvolvimento do esporte brasileiro.

    Fabíola é um exemplo de como é possível conciliar carreira, família e paixão pelo esporte. Recentemente, após uma pausa de 11 anos nas competições em piscina, voltou a nadar no circuito de águas abertas e retornou com destaque ao cenário da natação máster.

    Em junho de 2024, participou do Troféu Brasil Master de Natação em Catanduva (SP), conquistando quatro medalhas de ouro nas provas de 50m costas, 50m borboleta e nos revezamentos 4x50m medley e 4x50m livre.

    Em maio passado, Fabíola brilhou no Campeonato Brasileiro Master de Natação, realizado em Porto Alegre (RS). Na prova dos 50 metros costas da categoria 50+, ela conquistou a medalha de ouro com o tempo de 32.02 segundos, estabelecendo um novo recorde sul-americano para a faixa etária.

    Nesta entrevista exclusiva ao portal SportVale, Fabíola, que acaba de completar 50 anos, conta um pouco do seu momento atual na vida, da experiência como empresária, de como foi ter trabalhado na gestão pública, família e filhos.

    Confira abaixo:

    Você ficou 11 anos afastada das competições e retornou em grande estilo. Como foi esse processo?

    Fiquei 11 anos longe das competições como atleta profissional. E uma das maiores motivações para voltar foi justamente um pedido das meninas, da Loiuse e da Eme. Elas começaram a competir no ano passado e pediram para me ver competindo ao vivo, não só por vídeo. Isso reacendeu em mim essa vontade, que, sinceramente, eu nem imaginava mais que aconteceria.

    Coincidentemente, surgiu uma competição em Catanduva, o Campeonato Brasileiro Máster, e fui convidada pela Paula Renata. Resolvi aceitar esse desafio. Além disso, meu pai também voltou a nadar no mar, então foi uma inspiração a mais. Meus pais sempre foram referências no esporte pra mim. Meu pai começou nadando no mar e hoje participa de eventos junto com a gente. É algo que nos conecta muito.

    Suas filhas já estão dando as primeiras braçadas nas piscinas, seguindo os passos da mãe. Como é essa experiência de passar seus aprendizados para elas?

    É muito especial. É uma sensação incrível poder viver isso agora do outro lado, como mãe. Claro que a gente não pode viver por eles, mas sabemos como é o caminho e podemos orientar, conversar, estar presentes, apoiar, estimular e acompanhar esse desenvolvimento. Tanto a Louise quanto a mais nova, as duas já estão competindo. O esporte está muito presente na vida delas, e é muito gratificante poder compartilhar essa trajetória, transmitindo valores e experiências que o esporte me deu.

    Como é a rotina da Fabíola mãe, e de que forma o esporte contribui para a educação dos seus filhos?

    Eu adoro minha rotina como mãe. Tem alguns hábitos que trago muito do esporte e que considero fundamentais. Por exemplo, faço questão de que a gente tenha um bom café da manhã juntos. Preparo frutas com cereal, ovos, e a gente senta pra tomar esse café da manhã com calma.

    Todos os meus filhos estudam no período da manhã, então cuido de organizá-los, levo para a escola e, na parte da tarde, eles têm várias atividades. Além da natação, fazem outros esportes e atividades que ajudam muito no desenvolvimento deles. Nossa rotina é bem intensa, mas é gratificante ver como o esporte contribui para a disciplina, a organização e o senso de responsabilidade das crianças.

    É gratificante ver como o esporte contribui para a disciplina, a organização e o senso de responsabilidade das crianças.

    Fabíola Molina

    Em 2004, você e sua família fundaram a marca “Fabíola Molina”, especializada em roupas de banho para atletas. A empresa, com sede em São José dos Campos, é referência no mundo, já que exporta para vários países. Como está sendo viver essa experiência de empresária?

    Viver essa experiência como empresária tem sido muito especial. Eu acredito que já tenho 21 anos de empresa, e ao longo desse tempo conquistamos vários marcos importantes. Fomos, por exemplo, uma das empresas licenciadas das Olimpíadas de 2016. Isso nos permite dizer, com muito orgulho, que somos uma marca olímpica.

    As Olimpíadas no Brasil foram um divisor de águas, e conquistar esse feito foi incrível. Hoje, como empresa, temos a oportunidade de apoiar muitos atletas brasileiros. Patrocinamos vários deles, inclusive alguns dos melhores do país. No nosso time temos, por exemplo, a Maria Fernanda Costa, a Stephanie, a Ana Júlia Amaral — que é uma grande promessa da natação, é joseense, filha da Paula Renata — e também o Fernando Schiefer, que é medalhista olímpico. Isso nos enche de orgulho.”

    Em 2022, você foi nomeada titular da Secretaria Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social, vinculada ao Ministério da Cidadania do governo federal, onde atuou na formulação e implementação de programas esportivos-educacionais e de inclusão social. De que maneira você pôde contribuir com sua experiência como atleta olímpica e o que dizer desta sua primeira participação na gestão pública?

    Ter um olhar esportivo fez muita diferença nesse cargo. Minha pasta estava diretamente ligada à educação e à inclusão social. Atuávamos muito próximos à Confederação Brasileira do Desporto Escolar e Universitário, por exemplo, apoiando e realizando eventos como os Jogos Escolares Brasileiros (JEBs).

    Em 2020, no auge da pandemia, tivemos o desafio de realizar esses jogos mesmo com todas as restrições. Foi extremamente difícil, com tudo fechado, mas conseguimos enfrentar esse desafio. A minha vivência como atleta foi essencial para entender as necessidades do esporte na base e como ele é uma ferramenta poderosa de transformação social.

    Além de voltar a nadar, você também assumiu um cargo diretivo na Federação Aquática Paulista (FAP). Quais os principais desafios desta função?

    Os desafios são grandes, afinal, estamos falando da maior federação aquática do Brasil, tanto em número de atletas quanto de competições. O presidente atual é o Alexandre Zuiker, que foi vice-presidente na gestão anterior. Juntos, nosso objetivo é organizar cada vez melhor o esporte, fazer com que as competições sejam estruturadas e atraiam mais participantes.

    Embora eu tenha minha raiz na natação, o trabalho abrange também águas abertas, polo aquático, nado artístico, saltos. Inclusive, nas águas abertas temos duas mulheres medalhistas olímpicas. Estamos investindo muito nesse segmento, buscando fortalecer ainda mais. Meu papel é trazer essa visão do atleta, entender as necessidades e ajudar na evolução do esporte.

    Para finalizar, olhando para trás, que momento você pode dizer que foi o mais marcante de sua carreira?

    Um momento que guardo com muito carinho foi a minha última Olimpíada, em Londres. Claro que a primeira, em Sydney, e depois Pequim, foram extremamente importantes e inesquecíveis, especialmente o momento de conquistar o índice. Mas Londres teve um significado especial, por ser a última da minha carreira.

    Foi uma trajetória desafiadora, com trocas de treinador, mudança de volta para os Estados Unidos, vários altos e baixos. Quando conquistei o índice, em 2012, no Rio, minha família inteira estava lá na piscina do Maria Lenk. Meus pais, minha irmã, meus tios, primos, todo mundo foi me assistir. Foi emocionante. Esse apoio foi fundamental e coroou minha trajetória no esporte.”

    Londres teve um significado especial, por ser a última da minha carreira.

    Isto é Fabíola Molina

    Olimpíadas: Representou o Brasil em três edições dos Jogos Olímpicos: Sydney 2000, Pequim 2008 e Londres 2012. Em Pequim, quebrou o recorde sul-americano dos 100m costas nas eliminatórias, com o tempo de 1min00s71

    Jogos Pan-Americanos: Conquistou quatro medalhas — uma prata e três bronzes — entre as edições de 1995 (Mar del Plata) e 2011 (Guadalajara)

    Copa do Mundo de Natação: Acumulou 51 medalhas em etapas da competição

    Campeonatos Brasileiros: Foi campeã brasileira absoluta 110 vezes, sendo a maior vencedora do Troféu Brasil, com 44 vitórias em provas como 50m, 100m e 200m costas, além de 100m borboleta e provas de medley

    Recordes: Estabeleceu diversos recordes sul-americanos e das Américas, incluindo: 50m costas em piscina longa: 27s70 (2009); 100m costas em piscina longa: 1min00s08 (2009); 50m costas em piscina curta: 26s61; (2009); 100m costas em piscina curta: 57s63 (2009)

    Família e maternidade

    Casada com o também ex-nadador olímpico Diego Yabe
    Filhos: Louise, Aimee e Mattias

    Pais: Francisco e Kelce Molina

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