Nei José
    São José dos Campos

    O ciclista joseense Rodrigo Jean de Oliveira, de 46 anos, desafiou seus próprios limites no último final de semana (30 de maio a 1º de junho) ao participar da etapa Serra da Mantiqueira do BikingMan 555, uma das mais desafiadoras provas de ultraciclismo do mundo. Com largada e chegada em São José dos Campos, o percurso de 500 km cruzou as belas e desafiadoras trilhas da Serra da Mantiqueira, passando por cidades de Minas Gerais e do interior paulista.

    A prova é conhecida mundialmente por ser autossuficiente, ou seja, sem qualquer tipo de apoio externo — os atletas precisam se virar sozinhos, seja para alimentação, consertos, descanso ou navegação. A etapa foi a segunda da temporada mundial do campeonato.

    Rodrigo Jean completou o desafio em 8º lugar, com o tempo de 32 horas, 42 minutos e 2 segundos, enfrentando subidas intermináveis, frio intenso e desafios físicos e mentais. Outro ciclista joseense, João Perotti, também participou, mas precisou abandonar no primeiro ponto de controle (PC1), em Gonçalves (MG).

    Em entrevista ao SportVale, Jean conta como foi a preparação, os maiores desafios, as emoções do percurso e os aprendizados dessa verdadeira batalha sobre duas rodas.


    Como foi para você completar uma prova tão desafiadora como o BikingMan 555 Mantiqueira?

    Foi uma realização enorme. Representar minha cidade, São José dos Campos, cruzar essa linha de chegada e completar esse desafio, depois de um ano inteiro de preparação, foi a certeza de dever cumprido. Superação define bem esse momento.


    Como foi a sua preparação para essa prova?

    Minha preparação começou há mais de um ano, com treinos longos, alguns passando de 250 km num único dia. Tenho uma rotina intensa, praticamente com apenas um dia de descanso na semana, dependendo dos desafios programados. Além disso, trabalho como técnico no Bike Parque Alberto Simões, que é uma das melhores pistas de MTB XCO do país, e ali ministro aulas e treinões, além dos treinos de volume nas estradas da região.


    Quando você começou a competir no ciclismo?

    São 30 anos de experiência no ciclismo. Comecei bem jovem e desde então nunca parei. O esporte faz parte da minha vida.


    E como foi encarar a prova com uma bicicleta Gravel, diferente da mountain bike tradicional?

    Foi a primeira vez que utilizei uma bike Gravel, que foi gentilmente cedida pela XCO Bikes de São José dos Campos. É uma bike que se mostrou muito eficiente nos estradões, escala muito bem, com uma pedalada mais suave. A diferença é que ela não tem suspensão, então nas descidas exige o dobro de atenção e controle.


    Teve algum momento que pensou em desistir?

    Desistir não era uma opção. Mas o maior desafio, sem dúvida, foi por volta do km 220, quando já tinha subido bastante e ainda teria pela frente a temida Serra da Luminosa. A noite caiu, junto com o frio, e a batalha mental começou. Fiz uma parada programada em Piranguçu, por volta das 21h30, porque sabia que insistir naquele momento seria arriscar demais. Depois de descansar, voltei às 4h20 da manhã para encarar os 260 km restantes.


    Quais foram os momentos mais marcantes da prova?

    Teve um momento muito especial quando passei por Itajubá, cidade onde nasci. Lembrei da mudança da minha família para São José dos Campos, quando eu tinha apenas 5 anos. Passei pelo mesmo posto da Serra de Wenceslau Braz onde vi o caminhão de mudança anos atrás. Isso foi muito emocionante.

    Outro momento que me marcou muito foi o nascer do sol antes da descida da Serra de Piquete. Uma imagem que vai ficar guardada para sempre na memória.


    E os problemas no percurso? Alguma dificuldade mecânica?

    De problema mecânico, felizmente nenhum. Só me enrosquei um pouco com o GPS em alguns pontos, acabei rodando uns 10 km a mais do que o necessário. Fora isso, tudo funcionou perfeitamente.


    Teve algum apoio especial para participar?

    Sim, muita gente fez parte desse desafio. A inscrição foi um presente de um aluno, o Arnaldo (Junão Mantelli). O Fabiano, da Construtora Fedatto, cedeu o GPS. O Nivaldo Lins, que também participou do BikingMan, ajudou com acessórios. Também contei com a ajuda do Gilson Poli (farol), Rafael Martins (capa de chuva) e da MUV, que fornece meus suplementos. E claro, tive uma escolta de gala na chegada, com os amigos Wesley, Borjão, Gilson Júnior e Fabiano, além da presença da minha família e outros amigos que aguardavam na linha de chegada.


    Qual foi a sua estratégia para completar a prova?

    A estratégia era fazer uma grande parte do percurso até Piranguçu, que inclui os trechos mais desafiadores, e então descansar antes de seguir para os últimos 260 km. O horário fugiu um pouco do planejado, mas a estratégia funcionou muito bem.


    O que você aprendeu com essa experiência?

    O aprendizado é constante. Testei mais uma vez meus limites físicos, mentais e os equipamentos. Aprendi muito sobre a dinâmica da ultramaratona e da bike Gravel. E mais uma vez, o BikingMan prova que com planejamento, mentalização e disciplina é possível realizar qualquer desafio.


    Já tem novos desafios pela frente?

    Com certeza. Agora, em junho, teremos o Urban Challenger de Ciclismo aqui em São José dos Campos. E em julho, a Copa Alberto Simões de MTB XCO, também na nossa cidade. A preparação continua!


    Para finalizar, uma mensagem para quem sonha em encarar desafios como esse?

    Se você quer ser um Finisher do BikingMan, mentalize o desafio, se prepare e vá com tudo. São 55 horas de limite, e tudo é possível com estratégia, descanso adequado e, principalmente, acreditando no seu potencial. A Mantiqueira é desafiadora, mas também uma bênção, com cenários deslumbrantes e experiências que você leva para a vida toda.

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